Do “não dá porque…” ao “é possível, se…”: Como reverter a resistência inicial em busca compartilhada pela solução
Como sair do “não dá porque…” e do “não é meu problema” e levar o time para uma postura de solução com responsabilidade compartilhada.
Jon W. Zarpellon
12/8/20256 min read


“Não dá porque o prazo é curto.”
“Não dá porque falta gente.”
“Isso aí é com área X.”
Essas respostas são comuns em qualquer operação. Em muitos casos, não estão nem erradas. Porém, não são úteis. O prazo é ruim, falta gente mesmo e, formalmente, o problema nasceu em outra área. Mas, da forma como são colocadas, essas frases travam a conversa. Transformam um pedido difícil em muro.
Precisamos entender que a dificuldade dos problemas que conseguimos resolver está ligada à remuneração que recebemos. É o que nos diferencia de robôs pré-programados. Em uma era de Inteligência Artificial, robôs com Aprendizado de Máquina, IoT, etc... Estimule o exercício mental: “qual o nosso diferencial em relação às máquinas?”. Isso já ajuda a setar uma base para o mindset que precisamos.
Em outras palavras, somos pagos para encontrar soluções, não apenas reclamar dos problemas.
Pense assim: o problema não é dizer “não”. Você não tem que dizer “sim” para tudo. Nem deve! O problema é quando o “não” vem como ponto final.
O “não” certo, numa equipe madura, vem com vírgula, não com ponto:
Hoje não conseguimos, pois… Para conseguirmos, precisamos...
Não, a não ser que…
Não conseguimos desta forma, mas se...
Ou, em linguagem de gestão: “Do jeito que está, não. É possível, se…”
Isso tira o time da postura de resistência (“não é meu problema”) e leva para uma postura de solução com limites claros.
É até um pouco repetitivo dizer que da forma atual não é possível, não acha? Todo sistema entrega o que foi construído para entregar. Se precisamos de algo diferente, obviamente precisamos mudar alguma coisa. Nosso papel é entender “o que precisa mudar” e, principalmente, executar com disciplina.
O que acontece quando o “não” vira ponto final
Quando alguém responde “não dá porque…” e para aí, três coisas acontecem.
A primeira: a responsabilidade evapora.
O culpado passa a ser uma entidade abstrata: “a diretoria”, “o sistema”, “o cliente”, “o processo”, “o presidente do país”, “o global”, “a via láctea”. Quem respondeu se posiciona só como vítima do contexto. O pobre coitado é tão injustiçado pela vida...
A segunda: quem pediu algo fica sem opção real.
Sem cenário, não há decisão. A pessoa não sabe se valeria colocar mais recurso, mudar prazo, cortar escopo, mexer em prioridade. Só sabe que ouviu um “não”. Promova a reflexão: “se você fosse fosse o dono de uma padaria, pedisse para o padeiro deixar o pão um pouquinho mais dourado e a resposta dele fosse: “Não dá. Ponto.” O que você faria? Qual valor você enxergaria neste funcionário?
A terceira: o time reforça a cultura do “cada um no seu quadrado”.
Surge o “não é meu problema”, que é basicamente: “Não vou gastar energia nem para pensar em solução, porque não quero comprar essa briga.” E este, na minha opinião, é o problema mais grave: negar o pensamento. Isso significa ignorar a nossa maior virtude enquanto seres humanos, que nos fez evoluir e nos diferenciar de todos os outros animais: pensar, e pensar em conjunto. (À propósito, o livro “Sapiens, Uma Breve História da Humanidade” traz ideias extremamente interessantes sobre este assunto. Mas isso fica para um próximo artigo.)
Retornando ao tema. Com estes 3 fatos, o resultado é previsível: atrito entre áreas, cinismo (“aqui nada muda mesmo”) e zero aprendizado. Você só repete o conflito, reunião após reunião. Uma equipe que para de aprender, morre.
Transformando o “não” em vírgula: “é possível, se…”
Agora muda o formato.
Mesma situação: o Comercial chega com um pedido absurdo de antecipação.
Resposta velha:
“Não dá porque a linha está cheia.” O que esconde um: “Não é problema meu.”
Resposta com vírgula:
“Do jeito que está hoje, não dá. Para atender temos algumas opções:
Adiar o produto B em 1 dia
Se o cliente aceitar, dividir a entrega em duas datas
Em último caso, utilizar hora extra nesse turno"
Perceba o que muda:
O limite continua lá: do jeito que está, não dá.
Mas o “não” não é mais ponto final; virou vírgula, seguido de possibilidades.
A conversa sai do campo da reclamação e entra no campo da decisão.
Agora, quem pediu pode escolher:
Topar as condições;
Negociar parte delas;
Ou decidir conscientemente manter o “não”.
Em vez de resistência cega, você tem trade-off explícito: para dizer “sim” para isso, vamos ter que abrir mão daquilo. Na indústria, a expressão “o cobertor é curto” é algo que gestores estão acostumados a lidar. Todos sabem que não há recursos infinitos. Quanto maior a senioridade da posição, mais comum é precisar fazer estas escolhas. O problema não é esse. O que se espera como respostas são opções e cenários caso cada uma delas seja escolhida.
Usando isso para desmontar o “não é meu problema”
O “não é meu problema” é uma forma de não entrar no jogo. A pessoa está dizendo:
“Não quero me comprometer, então nem começo a pensar em solução.”
Você não precisa e não pode aceitar isso como resposta padrão do time.
Dá para responder algo assim:
“Ok, a origem do problema não é nossa mesmo. Mas o impacto cai aqui também. Então, a pergunta não é ‘de quem é o problema’, é: o que a gente consegue fazer”
E direcionar para o formato:
“Do nosso lado, desta forma não conseguimos. É possível, se o PCP reprogramar tal coisa.”
“É possível, mas precisamos do apoio da Manutenção para garantir janela em tal horário.”
“É possível absorver parte disso, se o Comercial alinhar com o cliente que haverá mudança em tal ponto.”
Você não está dizendo que o time é responsável por tudo. Está dizendo que ele é corresponsável pela solução quando o impacto chega ali.
Como transformar isso em hábito na equipe
Defina as regra do jogo. Você pode instituir duas combinações simples em reuniões:
Não aceitar “não dá porque…” como frase final. Sempre que alguém disser isso, a pergunta padrão é: “Beleza, do que você precisaria para dar?”
Não aceitar “não é meu problema” sem vírgula. A continuação obrigatória passa a ser: “Não é meu problema de origem, mas do nosso lado é possível ajudar, se…”
De forma simples, após explicar o conceito para o time, você pode sempre trazer que o nosso papel é sair do “não, porquê [...]” para o “sim, se [...]”.
Com o tempo e consistência (aliás, preciso falar sobre a importância subestimada disso nem outro artigo), o time aprende que:
Não adianta jogar o problema para longe;
Sempre haverá a pergunta de condição;
O “não” continua válido, mas nunca será fim de conversa, e sim o começo de um raciocínio.
E tem um bônus: tudo o que aparece depois do “se…” vira insumo de melhoria: “Seria possível se o setup fosse menor”, “se tivéssemos mais um operador treinado”, “se o Comercial parasse de prometer prazo X”.
Isso não é só desabafo. Se você registra, pode dar origem a projetos, negociações, investimentos, etc.
Em resumo
Você não quer um time que diz “sim” para tudo. Você quer um time que sabe dizer “não” com vírgula:
“Não, do jeito que está. Mas é possível, se…”
Essa pequena mudança de linguagem força uma mudança de postura:
Da resistência automática para a mentalidade de solução;
Do “não é meu problema” para “o que conseguimos fazer daqui, dentro de limites?”;
Do muro para a negociação.
No fim, não é só falar bonito. É transformar cada “não dá porque…” em uma frase completa. A conversa muda. O time evolui. A responsabilidade deixa de ser jogada para longe e volta para a mesa – onde ela sempre deveria estar.


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